De novo a gestão florestal
Na última edição deste jornal falei de gestão florestal. Na ordem do dia tem estado a temática da limpeza das florestas como forma de prevenir a repetição da tragédia de 2017, em Pedrógão.
Mas pouco se tem falado de gestão florestal. Depois de no último artigo ter feito uma abordagem mais de estratégia política, agora vou colocar um ângulo mais técnico nesta questão.
Mas, no fundo, o que importa é perceber que temos de investir na gestão florestal. É ideia comum nos meios técnicos destas fileiras que para ser rentável a gestão florestal precisa de explorações florestais com a superfície mínima de pelo menos 200-300 hectares.
É sabido que a maioria dos terrenos baldios tem superfície acima deste limiar. Assim sendo, seria expetável que a maioria dos baldios fosse exemplo de sustentabilidade económica, financeira, ambiental, boa gestão, geração de valor acrescentado para investir de forma permanente ao longo da linha do tempo nas comunidades locais.
Que não estivessem na dependência de dinheiros públicos para realizar investimentos em plantações, operações de manutenção e gestão florestal. É esta a realidade? São a maioria dos baldios exemplo da boa gestão florestal, sendo que muitos deles têm a gestão compartida com o Instituto da Conservação da Natureza e Florestas (ICNF), instituição pública que tem corpo técnico pago pelo Orçamento do Estado, com competências e experiência adequadas para fazer gestão florestal?
A resposta a ambas as questões é não. Salvo algumas honrosas exceções, os baldios estão no mesmo estado da esmagadora maioria das superfícies das florestas públicas ou privadas, subaproveitados, abandonados, abatem-se plantações e não se replanta ou aproveita a regeneração natural para novos povoamentos, sendo que muitos deles têm importantes recursos financeiros decorrentes de rendas de eólicas e outros aproveitamentos energéticos ou recursos geológicos.
Como se explica esta letargia, este abandono generalizado que se avalia no desordenamento da paisagem, na proliferação de matos, acácias e eucaliptos não geridos, esta falta de ambição de fazer bem ou muito bem?
Tenho muita dificuldade em explicar este fenómeno coletivo em que os interessados, a sociedade e os poderes públicos, estão anestesiados, em que não há esforço para gerir povoamentos, tirar partido da pecuária e silvopastorícia, do uso múltiplo das florestas, dos serviços ao ecossistema, da caraterização do património natural, biológico, flora e fauna, dos seus valores, etc…
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