Sem emenda
1.
2.
O Partido Socialista, de Pedro Nuno Santos, continua preso a uma agenda ideológica que não faz parte da sua tradição, emprestada do Bloco de Esquerda, convencido que o radicalismo e a demagogia, o pode conduzir ao poder. Provavelmente, por causa deste engano, e por confundir a devoção dos seus acólitos com a do país, Pedro Nuno Santos dificilmente será Primeiro-Ministro de Portugal. No seio da sua clique, tacticista e cerebral, espreita já a provável sucessora que é Alexandra Leitão, que está a deixar o atual líder queimar-se numa sucessão de disparates, que incentiva, até porque, por ter mais densidade intelectual, sabe que as suas hipóteses são reais, aproveitando as lições de Costa, o qual, desde sempre, meteu as ideias na gaveta, gerindo a conjuntura com o pragmatismo que o levou longe. Possivelmente, Pedro Nuno Santos dificilmente será mais do que já é, mas Alexandra Leitão terá todo o caminho para fazer, se não se colar demasiado ao chefe e tiver a necessária paciência para esperar, algo que pode exigir bem mais tempo do que imaginava.
2.
O Governo de Luís Montenegro revelou mais resiliência do que muitos contavam, especialmente pela postura do Primeiro-Ministro, serena e assertiva, mas começa agora a ser importunado pela prestação algo desastrosa de algum dos seus ministros, em especial a da Administração Interna, cada vez mais evidente um erro de “casting”, pois não tem densidade nem estatura para o cargo, especialmente quando enfrenta situações de crise grave, e a da Saúde, que, embora preparada e corajosa, dificilmente conseguirá escapar a um sistema que tudo tritura e, como está provado, nem o dinheiro resolve. Realizar uma remodelação agora, apenas com meio ano de governação, ainda com a aprovação do Orçamento de Estado para 2025 meio resolvido, seria uma manifestação de fraqueza que Montenegro não quer assumir, mas parece ser evidente que as primeiras peças a mudar já estão identificadas, sendo apenas uma questão de tempo até tomar decisões.
3.
Os fundos europeus continuam a ser uma miragem enquanto apoio ao investimento. As acusações que se faziam ao anterior Executivo por privilegiar a Administração Pública e o Estado em geral na sua alocação, ganham ainda mais enfâse com este, que todos esperavam, enquanto conservador e liberal, que a iniciativa privada fosse privilegiada. Os atrasos na execução acumulam-se, as exigências burocráticas multiplicam-se nos excessos de zelo e na recusa dos serviços públicos em tomar decisões, receosos do escrutínio, da ilegalidade e da perseguição. As associações empresariais tornaram-se redundantes e destinadas a serem menorizadas ou até suprimidas, pela indiferença relativamente ao seu papel de representação sectorial e de suporte à economia real, seja pelas exigências a que estão submetidas nos projetos em que se envolvem e que mais parecem feitos não para apoiarem a sua missão mas para sancionarem a sua existência.
Os tempos são sombrios e não se veem quaisquer sinais de progresso, o que pode antecipar uma situação de perigosa de crescente falha de representação associativa, enfraquecendo um tecido empresarial já debilitado pela conjuntura nacional e os riscos geopolíticos e geoeconómicos globais. Não parece existir ninguém consciente desta situação ou interessado em a resolver no Governo, o que, se não intencional, pelo menos parece.
4.
O mundo continua a mudar de forma vertiginosa, mas Portugal não. Continuamos insistentemente a achar que vivemos numa “bolha” de felicidade, imunes ao que de mau se passa no mundo, entretidos com as intrigas na “corte” de Lisboa, com os “fait divers”, escândalos e futebol, sem considerarmos que qualquer espirro que a Europa possa dar, significa uma pneumonia entre nós. Continuamos a procrastinar reformas urgentes na Justiça, na Educação e na Administração Pública em geral, julgando que viver do Turismo e da fantasia das “start ups” é uma solução sem prazo, deixando estiolar a indústria, quebrar as exportações e permitir o sangramento dos melhores talentos, trocando por imigração sem qualificações ou desejo de integração.
Continuamos sem emenda.
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