Os valores da família influenciam na gestão das pessoas

Reflexões sobre Empresas Familiares

Os valores são um conjunto de referenciais que os seres humanos apreendem essencialmente pela sua vivência prática contínua.
A forma como atuamos perante uma determinada situação do nosso dia a dia é observada e assimilada pelas pessoas com que interagimos e, dada a sua natural relevância, pelos nossos filhos, em especial nos seus primeiros anos de vida.

Sendo também alvo de aprendizagem em diversos outros contextos de relacionamento, as pautas do seio familiar são aquelas que provavelmente maior impacto tem na formação da nossa personalidade.

No caso das famílias empresárias existem alguns desses valores que podem ter um comportamento mais típico e refletirem-se nos próprios valoes da organização ou nos comportamentos de familiares na empresa (“a palavra é mais importante que um qualquer contrato”; “é necessário pupar hoje para ter amanhã”; etc.).
Para analisar este impacto, o estudo da Atrevia (Os valores e a comunicação na empresa familiar) perguntou aos participantes se consideravam que os valores das suas famílias tinham alguma influência na forma como a empresa geria os seus colaboradores. As respostas foram bem ilustrativas:

83% considera que a influencia é total ou muito relevante,
17% não identifica qualquer influência de relevo.

Esta evidente correlação deve servir-nos de mote para duas importantes vigilâncias: a forma como educamos e acompanhamos os nossos descendentes e o reflexo e impacto dos nossos valores na empresa familiar.

Armindo Borges fundou a Ibersaco em 1991, no mesmo ano em que encerrou a grande empresa onde trabalhava. Para este ex-responsável comercial, chegar a maior produtor português de telas de embalagem de polipropileno extrudido (ráfia) não foi nada fácil.
Os primeiros sete anos foram infernais: submeteram e viram aprovado um projeto de investimento, que executaram mas cujo reembolso tradava a chegar. A situação implicou penhora de créditos e outras restrições financeiras que quase o levou encerrar as portas.
O empresário considera que esta envolvente não permitiu crescer como previa, tendo perdido oportunidade de acesso a terrenos que pretendia explorar e sido confrontado com uma incapacidade de valorizar os trabalhadores.
Nos últimos anos a Ibersaco tem sido notícia recorrente pelas excelentes condições laborais que proporciona aos trabalhadores: “família”, como os costuma classificar. Se, literalmente, os seus três filhos e dois irmãos trabalham na empresa, a restante “família” são os quase 40 empregados.
Numa entrevista em 2016, ao Observador, Armindo Borges salientava: “Isto só existe por causa do trabalho árduo de toda a gente. Dou-me bem com todos e trato-os com dignidade e respeito”. Esta “família” tem direito a ginásio na empresa e, anualmente, uma viagem anual de férias. Os trabalhadores costumam participar nas decisões, pelo que estão muito envolvidos no negócio e possuem um enorme espírito de colaboração.
Localizada em Penamacor, dá preferência à contratação de pessoas do concelho, sendo que se orgulha de só ter dois funcionários a ganhar menos de mil euros e, em 2017, ter proporcionado aumentos salariais entre os 3% e os 36%.

Temas para reflexão:

Quais são os principais valores da nossa família?
Existe um reflexo dos nossos valores na forma como gerimos os nossos colaboradores?
As pessoas reconhecem e valorizam essa comunhão e prática de valores?

António Nogueira da Costa
Especialista em Empresas Familiares
antonio.costa@efconsulting.pt
pt.linkedin.com/in/antonionogueiradacosta/
http://www.facebook.com/ajncosta