Sucessão afeta 900 PME por dia;

Reflexão sobre Empresas Familiares
Sucessão afeta 900 PME por dia

É ideia generalizada de que as empresas familiares enfrentam grandes dificuldades em assegurarem a sua continuidade nas mãos da família fundadora. Esta situação aparece refletida em estudos, que indicam que somente 20% das empresas conseguem manter-se na mesma família por mais de 60 anos e que cerca de 50% falham na passagem do testemunho geracional (“Keeping the Family Business Healthy”, John Ward), e em ditados populares de cada país: do português “Pai rico, filho nobre, neto pobre” ao americano “de escravo a escravo em três gerações”.

Uma análise da União Europeia de 2006 (“Transmissão de empresas – Continuidade pela renovação”) refere que “um terço dos empresários da União Europeia abandonará a atividade nos próximos 10 anos. … este abandono afectará anualmente 690 mil PME e 2,8 milhões de empregos”.
Ao conjugar-se estes números com o de metade falhar no processo de sucessão, constata-se que diariamente estão em risco mais de 900 empresas e 3750 empregos, só na UE.
Este antepassado mais remoto do Protocolo Familiar, ou de qualquer uma das suas variantes, como é o caso do Protocolo de Governo Empresarial Familiar, deve ser um motivo de orgulho dos portugueses e, em especial, alvo de reflexão por parte dos líderes das empresas familiares e de qualquer elemento integrado numa família empresária.

 

Pacto sucessório é “vacina” para a continuidade da empresa familiar
A boa notícia, anunciada na intervenção efetuada no Congresso das Empresas Familiares subordinada ao tema “Empresa Familiar: Assegurar a continuidade para Vencer e manter a Família Unida”, é que existe uma “vacina” para prevenir ou ajudar a criar resistência a esta situação: tem origens ibéricas, remonta ao Século XI e suporta-se no “Pacto Sucessório”. Os primos Borgonha, Enrique e Raimundo, nossos antepassados ibéricos, foram provavelmente os pioneiros nos protocolos familiares (afinal, não foi só a globalização que demos ao mundo):
“Eu, Enrique, … juro … após o falecimento do rei Afonso, estarei preparado para, de todo o modo e com fidelidade, como único senhor, a ti defender toda esta terra do rei Afonso contra qualquer homem e mulher e a aumentá-la.
Juro também que, se vier a possuir o tesouro de Toledo antes de ti, dar-te-ei duas partes e conservarei para mim a terceira.
E eu, conde Raimundo … juro também que, após a morte do rei Afonso, te hei-de dar Toledo e toda a terra que lhe subjaz; e toda a terra que agora possuis, por mim concedida, tê-la-ás com a condição de seres a partir de agora meu homem e tê-la-ás de mim, o teu senhor; e depois de a ti as ter dado, tu deixar-me-ás todas as terras de Leão e de Castela. E se alguém a mim ou a ti quiser resistir e nos provocar injúria, nós empreenderemos guerra contra ele em conjunto ou individualmente, até que ele pacificamente devolva aquela terra a mim ou a ti e depois eu oferecer-ta-ei.
Juro também que, se eu tiver o tesouro de Toledo antes de ti, dar-te-ei a terça parte e guardarei para mim as duas partes remanescentes.

(Fonte: O “pacto sucessório”revisitado: o texto e o contexto, Abel Estefânio, Medievalista [Em linha]. Nº10, julho 2011).

 

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