Uma despedida imprevista e antecipada;

Uma despedida imprevista e antecipada
Este texto é o mais triste e o mais difícil que alguma vez aqui escrevemos.
Com o falecimento imprevisto do Dr. João Peixoto de Sousa deixamos de ter entre nós aquele que foi o fundador da Vida Económica e o grande impulsionador da nossa atividade editorial ou longo de várias dezenas de anos.

Além do colega, do amigo, do chefe e do mentor, João Peixoto de Sousa era o nosso pai. E o longo caminho percorrido lado a lado teve relações familiares e projetos profissionais.
Com ele aprendemos o valor da integridade, do trabalho sério e dedicado, do contributo positivo que podemos dar àqueles que confiam em nós. E também aprendemos que os bons valores e princípios familiares não são muito diferentes nem incompatíveis com os valores e os deveres profissionais, representando duas faces da mesma moeda.
João Peixoto de Sousa foi um advogado brilhante. Mas o valor das causas que defendia nunca se mediu pela retribuição que obtinha, mas sim pelo sentido de Justiça que conseguia materializar. E por isso estava sempre disponível para apoiar pessoas com poucos recursos, dando o seu melhor sem se preocupar com o que iria receber em troca.
E essa lógica manteve-se na atividade editorial que impulsionou com o seu enorme talento e invulgar capacidade de trabalho. A prioridade sempre foi prestar um bom serviço e responder às expectativas e necessidades dos clientes. O retorno era um aspeto e não o aspeto, e nunca o mais importante. Já com idade avançada, mantinha o entusiasmo por novos projetos, dedicando a sua energia e os recursos necessários, mesmo que os resultados fossem incertos e distantes. E confidenciava que à medida que a idade aumentava, se sentia cada vez menos preocupado com o retorno no curto e médio prazo.
Para além do Direito e do jornalismo económico, João Peixoto de Sousa sempre revelou um grande apreço pelo legado cultural, tendo recuperado vários imóveis antigos que se encontravam em ruína e abandonados.
Quando pensamos nos seus 93 anos, podemos achar que foi uma vida muito longa. Mas, para nós, a emoção ultrapassa a razão e sentimos que a sua vida foi demasiado curta e injustamente abreviada.
Com ele aprendemos que com uma idade avançada podemos ter menos memória e menos força física mas manter intacta a capacidade de amar e sermos amados pelos outros.
Com ele aprendemos também a fragilidade da vida. João Peixoto de Sousa foi vítima de contágio por uma bactéria hospitalar multirresistente no Hospital CUF Porto.
Infelizmente, constatamos que Portugal é um dos países do Mundo que registam maior incidência de infeções hospitalares, com uma taxa de 9,1%, muito acima da média europeia. E que um doente com infeção hospitalar se torna ele próprio um foco de contágio, podendo criar um conflito entre o interesse do doente e o interesse do hospital. Tal como acontece na guerra, os soldados mais corajosos podem ser abandonados em combate, em vez de serem resgatados.
Mais importante que lamentar a sua morte será celebrar a sua vida longa e o exemplo de empenho e dedicação que sempre transmitiu. Nos muitos finais de domingo que felizmente partilhámos ao longo dos anos, a sua despedida era sempre a mesma com um sorriso aberto: “Amanhã lá nos encontramos”. Temos a esperança de continuar a sentir a sua presença e dos nos encontrarmos noutro amanhã.
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