O “Cavalo de Tróia”: deputados europeus eurocéticos? Antieuropeus?;

À Esquina do Tempo
O “Cavalo de Tróia”: deputados europeus eurocéticos? Antieuropeus?
Acredito firmemente que as dificuldades presentes que a UE atravessa não são uma fatalidade, antes, até, uma oportunidade para construir um outro e melhor futuro através duma cooperação reforçada entre todos os seus membros no sentido do bem--estar comum. Não, porém, como alguns querem, a duas velocidades ou, pior ainda, com cada Estado-membro a remar para seu lado. Só por esse caminho se poderão ultrapassar as múltiplas crises que vergam hoje o espírito dos “pais fundadores” e daqueles que ainda se sentem seus descendentes. O problema do populismo, como o das migrações – ao lado de outros que são mais antigos – têm soluções democráticas e justas no horizonte; o Reino Unido não foi um país fundador da CEE (atualmente UE) e sempre teve um pé imperial fora dela; os problemas de independentismo de algumas das regiões da Europa preexistem à construção europeia. A vida política, como a vida em geral, é feita de mudança, por vezes de sobressaltos e, muitas vezes, de retrocessos. É a vida.

Ver a UE como um qualquer supermercado donde se leva o que se quer para conforto egoísta, e se deixa para os outros o que não interessa não é sério, nem legítimo. Uma instituição utilizada “à la carte” não tem futuro, seja ela qual for.
Ora vem isto a propósito das próximas eleições para o Parlamento Europeu. Que são muito relevantes, como todas as passadas e futuras, mas que, com as novas tecnologias de comunicação, podem ser falseadas e que, com o medo que certos políticos utilizam como arma privilegiada de domínio das pessoas e das nações, podem atingir duramente a democracia. Há que estar alerta contra as “fake news” e não ter medo de deuses falsos e de demónios melodramáticos.
O mesmo é dizer que, ao votar, cada cidadão deve estar lúcido quanto ao que são os seus interesses e os dos seus e perceber quem os poderá prolongar no exercício dos mandatos no Parlamento Europeu. A coragem e a autoestima de cada um deve falar mais alto do que resquícios de ideologias ultrapassadas e de fidelidades saloias.
Diz-se por aí que das próximas eleições para o Parlamento Europeu poderá resultar um hemiciclo em que a maioria dos deputados serão eurocéticos e, mesmo, antieuropeístas, uns de extrema-direita e outros de extrema-esquerda; já lá andam, que novidade!
Afinal, a sua estratégia é velha e relha: é a do “Cavalo de Tróia”. Ora tem tudo isto um aspeto que é infame: uns quantos eleitos à nossa custa, parvos contribuintes, fingindo que defendem algo que só lhes interessa enquanto puderem mugir a vaca. Melhor seria, mais honesto, ficarem cá pela aldeia e trabalhar; mas isso é o que não sabem, ou não lhes convém.
Alguém em seu juízo sereno e lúcido irá votar naqueles que de luva branca (ou negra, ensanguentada até) pretendem destruir por dentro os alicerces de um espaço de paz, liberdade e solidariedade que, não sendo perfeito (longe disso), tem nele tais possíveis?
Quem não acredita na UE e no seu futuro que fique, pois, cá a trabalhar; quem a quer, por dentro, destruir não tem direito a ser eleito!  Deixemos de ser ingénuos eleitores a levar à Europa uns quantos espertos e oportunistas que só querem as mordomias de Bruxelas (salários de príncipes, despesas de representação escandalosas, empregos para a família ou as amantes, ou uma boa pensão de reforma) e nada lá fazem a não ser trair o ideal europeu.
Haja dignidade!
António Vilar, 14/02/2019
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