A sucessão na liderança e na propriedade no seio da família empresária

A continuidade de uma empresa familiar é assegurada pela sucessão na sua liderança e na titularidade da sociedade, ou sociedades, que a controla.

A sucessão é um processo que ocorre por duas vias alternativas:

de forma natural – pela ocorrência do falecimento dum ou mais membros da família
de forma planeada, concebendo e implementando ações ao longo do tempo.

A sucessão por motivos naturais despoleta a necessidade de uma ocorrência simultânea na mudança da liderança e da titularidade da sociedade. Se for planeada, estas duas mudanças podem ocorrer em momento distintos e faseados no tempo, permitindo uma maior preparação de todas as pessoas envolvidas, nomeadamente, a própria sociedade.
O estudo “Global family business survey 2019” desenvolvido pela Deloitte, em 2019, analisou algumas das particularidades associadas ao processo sucessório na empresa familiar, tendo-se destacado que:

em 30% das ocorrências a sucessão na liderança e na propriedade é efetuada para a geração seguinte;
em 20% dos casos é efetuada a sucessão na propriedade à geração seguinte;
15% preferem optar por uma liderança não familiar;
13% passam a liderança, mas não a propriedade;
8% optam por vender a empresa, tantos quantos os que ainda não sabem o que acontecerá;
4% entregam a liderança e parte da propriedade a não familiares.

Ao identificar uma diversidade de alternativas disponíveis para a sucessão nas empresas familiares, está-se, ao mesmo tempo, a salientar a importância de a família planear a sua abordagem e eleger a melhor solução para todos: sucessores, sucedidos, a empresa e seus stakeholders e, naturalmente, a própria família empresária.

Em 1973 surgiu o semanário “Expresso”, detido pela empresa Sojornal, fundada em 1972, tendo como acionista de referência Francisco Pinto Balsemão. Esta sociedade foi a génese do Grupo Impresa, que cresceu com um canal privado de TV até ao conglomerado atual de 8 canais (SIC, SIC Internacional, SIC Notícias, SIC Radical, SIC Mulher, SIC K, SIC Caras, Txillo) e o maior jornal do País, o “Expresso”, líder de vendas.

A Impresa é detida maioritariamente pela Impreger, SGPS, SA (50,3%), que, por sua vez, é detida pela Balseger, SGPS, SA, a qual é controlada em 99,99% por Francisco José Pinto de Balsemão. Os direitos de voto que lhe são imputáveis, bem como os referentes à sua participação direta de 1,5%, refletem a posse da quase totalidade do capital da família Balsemão nas suas mãos. O restante capital está disperso por múltiplos acionistas, sendo que nenhum destes possui uma posição superior a 5%, e os filhos possuem quantidades não relevantes.

Em termos de liderança do grupo Impresa:

Francisco Balsemão (1ª geração) é o Presidente do Conselho de Administração, desde 18/01/1990;
Francisco Pedro Pinto Balsemão é Administrador Delegado – único membro com funções executivas e com a responsabilidade de todos os pelouros –, desde 06/03/2016 (possui 5100 ações);
Francisco Maria Pinto Balsemão é Administrador, desde 05/02/2001, e Vice-Presidente do Conselho de Administração (possui 8.146 ações)

Balsemão pai e o filho Francisco Maria são também administradores da sociedade Impreger.

Em termos genéricos, constata-se que a liderança do grupo tem vindo a ser preparada com o envolvimento das gerações mais novas, estando a propriedade do capital praticamente concentrada em posse do fundador.

Temas para reflexão:

Na nossa família já abordámos o processo da sucessão na empresa familiar?
O que está a influenciar o atraso deste processo de continuidade da empresa?
Desejamos planear esta fase crítica para todos ou enfrentar a realidade num momento imprevisto e normalmente emotivo?

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António Nogueira da Costa, 31/01/2020