Factfulness
Nos países pobres que % das meninas termina o ensino primário? 20%, 40% ou 60%?
Que % dos bebés no mundo com menos de um ano receberam um tipo de vacina? 20%, 50% ou 80%?
Hoje há 2 biliões de crianças. De acordo com a ONU em 2100 o número duplicará, será 3 biliões ou igual?
Se não respondeu a todas as três questões sempre com a última hipótese, errou. Se não acertou em nenhuma, está em “boa” companhia: a maioria dos CEOs, gestores de topo das ONGs, profissionais altamente treinados como médicos, etc. todos, todos, eles respondem pior que chimpanzés… (os quais respondendo ao acaso acertariam pelo menos numa resposta – 33%).
Hans Rosling, professor de saúde pública e fundador dos médicos sem fronteiras na Suécia, dedicou os últimos anos da sua vida a centenas de conferências onde começava por perguntar 10/15/20 destes factos básicos do mundo em que vivemos a audiências altamente qualificadas.
A perplexidade com a ignorância levou-o a escrever um livro que Bill Gates classificou como um dos mais importantes que já leu e um guia imprescindível para pensar claramente sobre o nosso mundo.
Porquê?
Não se pode pensar bem com factos errados. Sou um excelente processador de informação? Em quantidade e rapidez? Tudo bem. Mas se entra lixo, sai lixo: garbage in, garbage out. Como tirar conclusões certas de pressupostos errados? É isto que explica como 1) pessoas inteligentes 2) em países poderosos tomem decisões catastróficas, em que mais valia ficarem quietos.
E a generalidade de nós não conhece verdadeiramente o mundo em que vive. Por duas (entre outras) razões.
Primeiro, vivemos no passado, num mundo que já não existe. Que aprendemos na escola/universidade. E quando confrontados com os novos itens de informação, rejeitamo-los. Subconscientemente. Por preguiça: lá vou eu ter que (re)pensar como esta nova informação se “encaixa” no que sabia antes e rever a minha mundividência… E pela procura de simplicidade e portanto segurança: caramba isto vem confundir tudo… que chatice… Deixa lá, não ligues, depois pensas…, e o depois, é claro, nunca chega e vivemos num mundo que já acabou.
A maior parte da população mundial vive em países pobres, certo? Errado. Só 1/7. Os outros 5/7 vivem em países medianos, com entre 2 e 32 dólares por dia (e 1/7 com mais que isso).
Esta última estatística (banco mundial) ilustra também, que não só vivemos no passado, como que o presente está melhor. Isto é, pensamos que a realidade é pior do que verdadeiramente ela é.
E por três causas: 1) aversão ao risco (exigimos 2,25 de ganho para aceitarmos a perda de um euro num jogo de sorte de cara/coroa); 2) a nossa memória é consequentemente mais marcada pela perda do que pelo prazer; e 3) o enviesamento dos peritos: se se tem um martelo na mão ou conhecimentos clínicos ou de meteorologia, ou do que for, todos os problemas nos parecem um prego, crises na saúde, alterações climáticas e assim sucessivamente.
Pelo que ignoramos que o mundo está melhor numa série de factores: escravidão, derrames petrolíferos, mortalidade infantil, infecções de sida (esta até eu sabia), acidentes aéreos, trabalho infantil, fome, literacia, democracia, protecção da natureza (!), mortos em guerras (por 100.000 habitantes), etc., etc.
O mundo está perfeito? Não, não está. Está melhor? Em muitas coisas sim. Noutras não. Sabemos? Não, não sabemos. Em que mundo vivemos? Num que já acabou, que não existe. E num pior do que é.
Se a behavioral economics e as suas heurísticas explicam (preguiça, simplicidade, aversão ao risco, vaidade, bounded rationality, etc.) como funciona a nossa atenção e o enviesamento dos peritos, explicar não é resolver. Pelo que as pessoas tropeçam sistematicamente nas mesmas pedras. E nas empresas ignorância dos factos significa falência ou valor que deixa de se criar. Oportunidades perdidas e acções indevidas. Em qualquer caso, erros cometidos.
Porque os factos são nossos amigos (Deng Xiaoping) e assim devemos procurar a verdade nos factos. O conhecimento custa dinheiro?... e quanto custa a ignorância?
Factfulness? Um livro a não perder.