Advocacia e Felicidade: qual o papel do dinheiro?
Há uma certa tendência para se considerar que os advogados não só ganham muito dinheiro, como ganhar dinheiro é um dos seus principais objectivos de carreira e de realização pessoal. Ora é importante esclarecer, por um lado, que há demasiados advogados para que aquela primeira ideia possa ser considerada uma verdade inquestionável e, por outro, há formas de exercer advocacia muito diferentes entre si, que levam a condicionar também a sua constatação inequívoca. Quanto à segunda ideia, arriscaria dizer que, sem prejuízo da sua importância, ganhar dinheiro é um entre outros objectivos mas, cada vez mais, não o principal.
Na verdade, um estudo muito interessante desenvolvido, em 2014, por Lawrence S. Krieger e Kennon M. Sheldon Ph.D, publicado na The George Washington Law Review, sob o tema What Makes Lawyers Happy?: A Data Driven Prescription to Redefine Profissional Happiness – prime human motivator que avaliou os factores motivacionais de mais de 6000 advogados, concluiu que estes não são diferentes dos outros profissionais no que toca a questões de felicidade e de prazer.
O mesmo estudo afirma que os advogados igualmente valorizam e necessitam de autenticidade, de autonomia, de proximidade de relações ou de idêntico apoio formativo ou de supervisão. E, acrescenta, a existência em maior ou menor grau destes factores na sua carreira profissional afectam a respectiva performance.
Para um mercado ainda a caminho de uma maturidade consistente, o que acima se afirma pode parecer estranho e até mesmo sem sentido, de tão pouco realista. Mas para quem o acompanha, de uma forma totalmente focada, e tem assistido ao crescimento de novas gerações, percebe que o que aquele estudo aborda e conclui está igualmente próximo da nossa realidade.
Com efeito, hoje em dia, existe um número cada vez maior de factores que contribuem para a realização profissional e pessoal dos advogados – exerçam estes em regime de profissional liberal ou enquanto In-house - que vão muito para além do reconhecimento, notoriedade ou, mesmo, da própria remuneração. Ainda que esta última componente tenda a assumir diferentes níveis de importância ao longo da carreira, a verdade é que a mesma já não representa um papel de efectiva primazia no processo de decisão de adesão a novos desafios.
Quem conseguir antecipar a integração daqueles factores novos no quotidiano da sua organização, estará certamente muito melhor preparado para fazer um caminho de sucesso, em particular, em matéria de institucionalização da sua estrutura e, consequentemente, de transição geracional.
Lisboa, 17 de Junho de 2016