Exposição da Carrasco assinala uma evolução na obra de Fran Bobadilla;

Exposição da Carrasco assinala uma evolução na obra de Fran Bobadilla
Para a nova exposição em Madrid, composta por 16 obras, e que se pode ver a partir de 27 de março na galeria Carrasco em Madrid, o arquiteto galego, tornado pintor em Florença, convidou a italiana Paola Vidari para fazer a curadoria.  Nesta nova série de obras, patente até meados de maio,  o início sólido, concreto, terreno e humano, reconhecido nas suas pinturas e desenhos até agora, deu lugar a um novo fascínio. Um novo interesse que inevitavelmente transformou os códigos e a sintaxe estilística do Fran Bobadilla, diversificando e renovando os resultados da sua elaboração pictórica.
Segundo a comissária da exposição, a exposição da Carrasco assinala uma evolução na obra de Fran Bobadilla: “O ponto de observação sofreu uma mutação. Já não está direcionado para o que encontra frontalmente, na altura humana, mas para o que está acima. Acima das paredes, acima dos telhados, acima da linha do horizonte. O que não mudou é a vontade analítica: que pode nascer de uma chance estética de luz, cromatismo, formas. Ou nascer e inspirar uma reflexão inerente à fenomenologia do céu: o estudo quase classificatório de seus fenómenos que se manifestam como experiência no tempo e no espaço. Os instrumentos de pesquisa ainda mudam, pois se abaixo do horizonte a linha serve como instrumento de medição de espaço e volume, para o que está acima precisa de recorrer a outras referências. Portanto, a figura, frase, átomo mínimo dessa especulação é a nuvem”.
A nuvem, para o artista,  presta-se a infinitas variações imaginárias que deixam espaço in primis para a interpretação, que pode assumir múltiplas tipologias representativas e, sucessivamente, para construção, das quais é possível concretizar um conceito. Nas pinturas da série "paisagens altas" as nuvens são elementos constituintes das paisagens aéreas, nas quais as reivindicações arquitetónicas por vezes presentes, ajudam o observador a tornar comensurável o distanciamento absoluto do que se vê. Pura homenagem à beleza, essas obras exortam o espectador a prestar atenção ao extraordinário encanto do que está sobre nós, e o convidam à serenidade, à leveza e à natureza. Sem nunca afrouxar a união com a pintura e com a matéria pictórica, na série de obras “Focale” os resultados de uma reflexão conceitual surgem da necessidade de encontrar formas significativas que possam expressar a amplitude de projeção que o céu e os seus significados simbólicos guardam e que sempre foram atribuídos a ele: vOo, filtro, ideia, nebulosa... observar essas nuvens arquetípicas coloca-nos num estado de suspensão da realidade, de estranheza em relação ao que está a acontecer.
 “No entanto, são obras que nascem da vontade de registar analiticamente a forma das nuvens na sua mutabilidade contínua, e que se transformam num convite ao jogo dedicado ao observador. Trabalhos que se baseiam na pareidolia - fenómeno objetivo que nos leva a ver, nas nuvens, além da forma visível. Trabalhos leves, nos quais o uso de fricção para os fundos, formam um céu ideal no qual se evidenciam as linhas marcadas que delineiam as formas flutuantes e imateriais das nuvens.A nuvem é tudo o que simboliza outros lugares, o infinito. É um símbolo de metamorfose no seu próprio devir. A nuvem tem espaço e tempo ilimitados, em contínua transformação, flui inevitavelmente, como a nossa existência. Tudo se move, tudo treme e muda em ritmos frenéticos; Nem os filósofos clássicos nem a física moderna escaparam ao que a Essência é a própria transformação: ‘omnia mutantur’, tudo muda..”, conclui a comissária italiana.


Susana Almeida, 23/03/2021
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